quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Depois da festa

Meu nome é Ângela e sou voluntária da Alice Couto há quatro meses. Meu filho Anderson Santos Nogueira tem nove anos. Tenho também uma neta, que crio como filha. O nome dela é Ricalina da Silva.

Era um belo domingo de sol, fomos lá pra Brás de Pina participar de um churrasco na casa de um parente de meu marido. Ajudei nos preparativos, no preparo das carnes e molhos. Gosto muito de colaborar, pois não sou de ficar parada, sem fazer nada. O domingo foi um dia maravilhoso, onde tudo correu bem. Era só alegria. Ficamos até o final da tarde.

Na segunda-feira, infelizmente, tudo mudou. Foi como no velho ditado: "dia de alegria, véspera de tristezas." Meu compadre, que estava muito doente, veio a falecer na terça-feira. O sepultamento foi feito no dia seguinte, na quarta-feira.Meu irmão, que era muito doente, nunca teve filhos. Passei a tomar conta das crianças dele. Adoro quando elas me chamam de tia Ângela.

Meu filho Anderson é um menino muito levado. Está sempre agitado. Não pára quieto em sala de aula, sempre criando problemas. Está com nove anos e ainda não sabe ler e escrever. Por causa disso, passei a fazer um reforço para melhorar seu aprendizado na escola Luiz de Lemos. Vou sempre com ele ao fonoaudiólogo, para resolver seus problemas de fala. Creio que os problemas da menina vieram desde o parto. Minha filha apertava demais a barriga, deve ter afetado seu desenvolvimento.

Bebia de tudo, até álcool puro. Houve uma época em que bebia muito. Era uma verdadeira "esponja", "secando" mais de uma garrafa de cachaça por dia. Vivia fedendo a álcool. Bebia tudo que via pela frente: álcool puro, perfumes. Só faltava beber gasolina, mas gostava mesmo é de cachaça. Era a minha perdição.

Teve um dia que bebi uma garrafa de cachaça "até o gargalo", sorvendo as últimas gotas. Fui então passear com meu filho e minha neta. Os vizinhos viram aquela cena deprimente, eu cambaleando, não agüentava nem andar, conduzindo duas crianças. Era o símbolo da irresponsabilidade.

Resolveram pôr um ponto final naquilo tudo. Fizeram uma denúncia ao Juizado de Menores. Perdi a guarda das crianças. Fiquei desesperada, sem saber o que fazer nem como sair daquele caminho.

O caminho da salvação
Minha salvação veio por caminhos inesperados. Foi uma bênção divina, um milagre. Fui encaminhada ao grupo de Alcoólicos Anônimos (AA), uma verdadeira irmandade de pessoas dispostas a compartilhar experiências. Foi um anjo que desceu do céu e me levou para o grupo. Nunca mais bebi uma gota sequer de álcool. Estou limpa, sempre evito o primeiro gole.

Faz dez anos que não bebo nada, admiti ser impotente perante o vício. Agora evito o primeiro gole, segundo o preceito estabelecido. No início foi uma luta diária, agora nem ligo mais, podem beber à vontade na minha frente. Perdi a vontade. Sou devota de Nossa Senhora Aparecida, a santa milagreira padroeira do Brasil. Ela conduz meus caminhos. Hoje estou recuperada, tive minha segunda chance. Não quero desperdiçar.

Ao final, deixo uma pequena mensagem dirigida a todas as mães que padecem do mesmo problema: "Não desejo o que passei a nenhuma mãe do mundo. Hoje fico muito agradecida a todos aqueles que me ajudaram, me colocando de volta ao caminho reto. Agora não tem mais volta, nunca mais vou beber."

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