quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Primeira e última vez de Luíza

Era a primeira vez que Luíza se separava das irmãs. Terminou sendo a última

Rosângela tem 35 anos e é mãe voluntária no Colégio Ayrton Senna, que fica no bairro Parque Flora. Ela atua nas turmas de 4° série. Ajuda a orientar os alunos da escola. "Os jovens da escola são muito agitados, mas nem isso tira o meu ânimo", diz ela. Apesar das dificuldades, os jovens escutam seus conselhos. 
O almoço inesquecível de Rosângela ocorreu há cerca de um ano. "Foi a última vez que vi minha irmã Luíza", conta ela. Luiza era casada com um militar recém-chegado de uma missão na África, que fora recrutado para outra, só que dessa vez na região Norte do Brasil. A notícia de que o casal teria que se mudar para o estado do Amapá causou rebuliço na família de Rosângela. "Somos sete irmãs", conta Rosângela. "Nunca nos separamos." 
A mãe de Rosângela ficou bastante abalada com a ida da filha para tão longe. O chororô foi inevitável na família que vivera sempre junta, no mesmo terreno, no bairro de Tinguá. Como o casal viajaria numa segunda-feira, a família resolveu fazer um almoço de despedida para Luzia no domingo. Uma das sete irmãs, que trabalhava na Fazenda Tucano, também em Tinguá, disse que faria um bacalhau com batatas para o dia da despedida. O prato agradou a maioria da família, menos Rosângela e Luzia. As duas tiveram a idéia de incrementar o cardápio com um frango com quiabo feito por elas. 
Quando o tal domingo chegou, a família começou os preparativos para o almoço. A irmã da fazenda Tucano foi fazer o bacalhau, enquanto Rosângela e sua irmã sacrificavam o frango que seria servido ao casal. O padrasto de Rosângela encheu a piscina com bolas. A ornamentação ficou tão bonita que as irmãs caíram no choro. Luzia chegou ao ponto de dizer que não iria mais se mudar com o marido. Mas sua mãe foi taxativa: "Aonde vai a caçamba, vai a corda. Casou, agora tem que acompanhar o marido", disse a mãe, encorajando a filha a partir com o marido. 
"Esse domingo foi muito marcante para nós, pois nunca pensamos em nos separar." As irmãs estavam sempre se telefonando até que o ginecologista de Luíza detectou um mioma e resolveu operá-la. "Por telefone, ficamos sabendo que ela morreu durante a cirurgia." Desesperada, a mãe começou a se martirizar. Sentia-se culpada por ter encorajado a filha a viajar para o Amapá. "Se ela não tivesse ido, talvez isso não tivesse acontecido", dizia a mãe.
Até hoje Rosangela guarda a lembrança de Luzia e daquele almoço de domingo em família.

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