quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O mocotó no papo da patroa

José Guilherme queria reunir os amigos para um mocotó, mas só pôde oferecer uma omelete

Em tempos difíceis da ultima crise de um capitalismo tardio, dinheiro é sempre problema, principalmente quando começa a faltar. Essa foi a narrativa de José Guilherme, um brasileiro da Baixada Fluminense.

José Guilherme tem 63 anos, bem vividos. Casado com Rose, sua cara metade gerou três meninos, todos com nomes bíblicos: Josué (dez anos, quinto ano), Josias (nove anos, quarto ano) e Josafá (oito anos, terceiro ano).

Às nove horas de uma manhã de sábado, José Guilherme teve a idéia de convidar amigos para um almoço de domingo. Ele ligou para Rose. “Que tal uma feijoada?”, assuntou. Ela topou fazer aquele feijão que só ela só sabe fazer. Mas meia hora depois José Guilherme voltou a telefonar, agora com uma nova sugestão. “Pensando bem, acho melhor um mocotó”, disse ele. “Sai mais barato, bem mais barato, todo o mundo vai comer pra valer, vão encher a pança.”

Algumas horas depois o telefone tocou. Era Rose. “Meu amor, deu zebra”, anunciou a mulher de José Guilherme. “Melou o mocotó”, disse. “A danada da patroa, disse que não tinha dinheiro nem pra dar um vale. Vai pagar tudo só na terça feira, no final da tarde. Assim é f(...). É contar com o ovo na traseira da perua.”

Mas, como todo brasileiro, José Guilherme insiste até o final do segundo tempo. Embora não pudesse convidar todo o grupo que esperava reunir, chamou os amigos mais fiéis e fez o que tinha na despensa: arroz, um caruru e uma bela omelete, que só de pensar ficava com água na boca.

A omelete veio a capricho, regada por uma “branquinha e umas geladas”. O mocotó e a feijoada ficaram para depois, quando os ventos soprassem a favor. Afinal, um dia é da caça e o outro do trabalhador.

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