quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O disco voador da cunhada de dona Joana

Doana Joana testemunhou milagres no almoço
com a cunhada

Dona Joana nasceu em Guimarães, no Maranhão. Tem 53 anos, mora em Miguel Couto e é voluntária da escola Ana Maria Ramalho. Joana é mãe de quatro filhos e acolheu como filhos seus dois sobrinhos, Alessandro e Mateus. “Meus sobrinhos são muito rebeldes, melhoraram um pouco depois que viram o exemplo das crianças da escola, onde passo meus ensinamentos.”

Para ela, o projeto foi a melhor coisa que aconteceu ultimamente, “um amor verdadeiro, um misto de carinho e respeito”. Mas nem sempre foi assim: no início, as crianças da escola eram desatentas e rebeldes. “Não aprendiam nada, pareciam macacos agitados, sempre inquietos, pulando para lá e para cá. Com muita paciência, peguei os mais agitados num cantinho e mostrei a eles como devem se comportar em sala. Hoje, eles me respeitam, estão até aprendendo tudo e se interessando pelas aulas”, diz com um sorriso pleno de felicidade.

Duas histórias
Joana conta que sua cunhada tinha chamado para o almoço de domingo. "Para rever os parentes", lembra. A mesa era farta: churrasco com muita carne, lingüiça e cerveja para acompanhar, uma festança. Mas, como toda festa, vem o excesso: muito falatório, muita bebida e muita comida pra deixar todo mundo excitado. Como não se sentia bem no meio daquela algazarra, resolveu cair fora ainda nos preparativos.

Para aproveitar o domingo, foi “matar as saudades” de uma amiga que não via havia algum tempo. “Ela me recebeu na porta com carinho, mas com um olhar distante e cheio de tristeza e começou a chorar. Era um choro convulsivo, que me deixou preocupada." Depois de um tempo, a amiga resolveu abrir o coração e começou a a falar de uma vida de muitas necessidades, quase sem dinheiro, seu fogão vivia quase sempre apagado. "Estava sozinha, sem marido e vivendo ao Deus dará, às vezes até passava fome.”

A cunhada de Joana ofereceu uma cadeira e cheia de vergonha convidou-a para almoçar, mas para fazer companhia, tirá-la da solidão. Sua despensa estava vazia, sem mantimentos, era de dar dó. Mesmo assim, ela fez questão de preparar um pouquinho de arroz, feijão e um “disco voador”, prato que não conhecia, nunca tinha ouvido falar. "O famoso disco voador era simplesmente um ovo frito", lembra Joana. Um cozidinho foi feito para reforçar a refeição reduzida. Não era à toa que ela estava tão magra, de uma palidez quase cadavérica. “Conversamos muito sobre um passado um pouco mais feliz, tentando consolá-la. Passei a tarde com ela, no final, já quase noite, em vez das lágrimas, ela já esboçava um leve sorriso. Fiquei de voltar em outra ocasião, dizendo para ela ter fé em Deus que as coisas iriam melhorar. Afinal, Deus não dá provações além de nossas forças,” diz Joana com convicção.

Uma feliz surpresa
Uma grata surpresa aconteceu dias depois. Sua cunhada bateu em sua porta, com uma roupinha velha, mas bem passadinha e limpinha. Seu rosto já não tinha mais aquela palidez, tinha uma leve cor, cor de vida e de esperança. Fez um relato já não mais com aquele choro nervoso, vindo das entranhas, mas com um sorriso que transmitia confiança. Confidenciou que um tempo depois da saída de Joana bateram à sua porta. Ela atendeu desconfiada, estava sozinha, era uma quase noite de domingo. A rua estava deserta, não havia viva alma., só o canto dos últimos pássaros procurando seus ninhos para recolher. O milagre aconteceu. Vindo não se sabe de onde, um mensageiro abençoado trouxe o que ela mais necessitava: uma cesta básica. Dona Joana agora vai todos os domingos na casa dela, para ajudar a preparar o almoço, desta vez um pouco melhorado, com feijão, arroz, carnes e até uma saladinha. “Vou até levar um guaraná para comemorar. Às vezes as coisas mais simples nos fazem sentir melhor e mais felizes.”

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