quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Diálogos amorosos

Dona Joana apostou no diálogo para consquistar a turma
da bagunça

por Anderson Fat

"Meu nome é Joana Raimunda Trindade e eu sou mãe voluntária na E.M. Ana Maria Ramalho, no bairro Miguel Couto." É assim que Dona Joana se apresenta para falar sobre o seu papel na educação das crianças que estudam no seu bairro. Estimulada pelo programa Bairro-Escola, a dona de casa começou a trabalhar nessa escola por ser próxima à sua casa e por conhecer muito bem a realidade das crianças que estudam lá. Umas são órfãs, outras sofrem violência no lar e ainda há aquelas que mal conseguem se relacionar com os outros alunos. "Quando eu cheguei nessa escola, senti um pouco de dificuldade. Foi muito difícil chegar a um 'ajuntamento', pois eles eram muito rebeldes. Batiam uns nos outros. Teve um momento em que eu coloquei a mão na cabeça e pensei em sair correndo", explica a mãe educadora.

Assustada com a turma da bagunça, dona Joana resolveu descobrir, na conversa, o motivo de tanta peraltice. Começou pelos mais levados. "Eles me falaram o motivo. Diziam que passavam por dificuldades", revelou na reunião em que pedimos para que dissesse qual foi a dificuldade que enfrentou no trabalho e qual a solução que encontrou. Ao descobrir o motivo do mal comportamento, a mãe educadora decidiu levar uma conversa franca com a turma da pesada. "Disse que, se eles estavam na escola, era porque a mãe deles desejava o melhor para eles", lembrou a voluntária. "Se vocês continuarem assim, serão expulsos. Eu vim aqui para observar quem faz bagunça", alertou a voluntária. "Depois disso, quando eu os via fazendo bagunça, eles ficavam sem graça e pediam desculpa", contou dona Joana. Em nenhum momento, passou a mão na cabeça dos alunos problemáticos.

Dona Joana relembra o dia em que participou de uma reunião na escola. Entre os presentes estava a coordenadora geral do programa Bairro-Escola, Maria Antônia Goulart. Segundo Joana, nessa reunião chegou-se ao consenso de que era preciso incluir os pais desses alunos no debate sobre o comportamento deles na escola. "A Maria (Antônia Goulart) até visitou pais de alguns alunos. Foi a partir daí que começou esse trabalho de mães na escola. Por isso que agora deu certo. Eu creio que nós, como mães, sabemos a real necessidade dos filhos. Assim, acabamos ajudando nossos filhos e os filhos dos outros", afirmou Joana, embora ela mesma seja de opinião que não é toda mãe que agüenta aquele ritmo. "Teve mãe que viu o que acontecia na escola e não voltou mais. Elas saíam dizendo que nós éramos corajosas demais", recordou.

Segundo dona Joana, o segredo para o bom comportamento sempre será o diálogo. "A falta de amor fazia aquelas crianças agirem daquele jeito. Com criança não basta gritar, gritar e gritar. Tem que passar amor, tentar conversar e saber porque elas estão assim", ensinou. "Basta explicar que ali é uma escola, e não lugar de bagunça. Foi dessa forma que eu conquistei o amor deles. Hoje eles chegam no colégio, me abraçam, me beijam, escrevem cartinhas e dizem que me amam do fundo do coração. Quando eu não vou à escola, eles perguntam por mim e querem saber se aconteceu algo comigo", orgulhou-se, dando mais uma dica de como conquistar a confiança da turma que adora uma bagunça."Basta se preocupar em saber o que está acontecendo com eles, que durante esse tempo eles acabam pegando mais amor pela gente e começam a confiar".

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